Há o que celebrar neste Natal da carestia, fome e miséria??

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Há o que celebrar neste Natal da carestia, fome e miséria??

Hoje, dia 24 de dezembro, comemoração da véspera de Natal, mas não temos, com toda certeza, o que comemorar nessa data. Afinal, iremos celebrar o que exatamente? A carestia dos alimentos, o aumento da miséria ou a fome que milhares de milhões estão sentindo no Brasil? Escolham e se “deleitem” com muita “alegria” essa noite de véspera e virada para o Natal.

O que nós estamos vivendo em Mato Grosso e em todo país estava próximo de ser erradicado ou, no mínimo, amenizado, mas vimos voltar com uma força descomunal, como um soco na boca do estômago, que é a falta de comida no prato dos brasileiros e brasileiras. Não há o que celebrar!!! É tempo de reflexão!!

O pior episódio que exemplifica, às duras penas, a fome e a miséria que o povo mato-grossense está passando vêm acontecendo desde muito tempo, mas explodiu em junho deste ano foi o vídeo que mostra uma fila se formando na rua lateral de um açougue conhecido pelo preço “mais em conta”, onde centenas de pessoas esperam horas debaixo do sol quente, sentados na calçada, para a doação de “ossinho”, pedaços do processo de desossa do boi. Isso mudou desde a última semana, pois agora as pessoas estão dormindo na fila do estabelecimento na esperança de conseguir pegar algum ossinho.

Esses “ossinhos” são, efetivamente, o que servem como a única e, no momento, viável fonte de proteína da população mais carente. “Quando a gente consegue o ossinho é a maior alegria lá em casa, porque a crise bateu pesada! Eu não consigo emprego desde o ano passado e não temo como a gente comprar carne em mercado. Faz bastante tempo que eu não como carne, o ossinho está salvando todos nós. Tudo está caro!”, conta Luzinete Carvalho Romero, de 42 anos.

Buscando acabar com tudo isso, apresentamos uma Indicação, nº 6718/2021, destinada ao Governador Mauro Mendes (DEM), ao Secretário-Chefe da Casa Civil, Mauro Carvalho, e a Secretária de Estado de Assistência Social e Cidadania, Rosamaria Carvalho, pedindo que o Estado adote Programas Sociais para inclusão das famílias que estão às margens do processo econômico e que frequentam à chamada "Fila do Ossinho", bem como o respectivo cadastro para destinação de cestas básicas.

A desigualdade social se aprofunda com a concentração da riqueza, sob a hegemonia do capital financeiro, e causa desemprego estrutural que, no Brasil, já atinge 13,5 milhões de trabalhadores. A fome já penaliza 20 milhões de pessoas no Brasil, país que é o terceiro produtor de alimentos do mundo. A carestia dos alimentos básicos tem piorado as condições de vida do povo, especialmente das camadas mais empobrecidas da população. 

Cada vez mais as pessoas têm dificuldade para se alimentar. A inflação acumulada de alimentos atingiu 11, 71% nos últimos 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com a inflação dos alimentos e sem emprego, o povo não tem condições de pagar aluguel. Resultado: milhares são despejados e, sem alternativas, enchem as ruas, praças e se amontoam debaixo dos viadutos das cidades.

Cenas de pessoas desmaiando por falta de comida são cada vez mais frequentes. Há relatos de que todos os dias as Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) da cidade de Cuiabá são procuradas por moradores com queixa de mal-estar, decorrente de fome, e que crianças, durante a consulta, pedem comida. Situação parecida também tem sido notada nas escolas, onde alunos passam mal porque vão para as aulas sem se alimentar. É por isso que precisamos combater de todas as formas a fome nesse país. É nesse modelo que o Projeto de Lei nº 1202/2021 entra, pois ele busca criar o Programa Emergencial de Combate à Fome no âmbito do Estado de Mato Grosso com objetivo de prestar socorro imediato às pessoas que se encontram em estado de insegurança alimentar.

O reajuste no preço dos alimentos chegou a 40% durante a pandemia, impactando mais severamente as famílias com renda menor. Para famílias com renda de um salário mínimo, o preço da cesta básica chega a consumir 65,32% dos ganhos mensais, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Bolsonaro destruiu instrumentos responsáveis pela política de alimentação e regulação dos preços, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).  A situação social é gravíssima. O número de famílias sobrevivendo na extrema pobreza passa de 14 milhões: é o maior em seis anos.

O gás de cozinha, para muitos, foi substituído pelo fogão à lenha, e muitos acidentes com o uso do álcool para acender o carvão já foram registrados. Somente em 2021, o preço médio do botijão de 13 quilos aumentou 30%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço da energia elétrica no Brasil já acumula uma alta de 24,97%, em 2021.

Infelizmente temos assistido cenas que nos causam indignação, como imagens de pessoas revirando lixo em busca de sobras de alimentos, nas filas de açougues a procura de ossos para retirarem restos de carne. No sertão do Nordeste, pessoas em disputa de carniça com urubus têm revelado, ao Brasil e ao mundo, a tragédia humana e social pela qual passam milhões de pessoas em todos os cantos de nosso país.

A situação de fome e pobreza deve piorar em 2022, tendo em vista que, até o mês de outubro, 37 milhões de pessoas recebiam Bolsa Família ou auxílio emergencial. A partir de agora, o Auxílio Brasil irá atender, no máximo 17 milhões de pessoas, excluindo, portanto, 20 milhões, que ficarão sem nenhuma renda para a sua sobrevivência básica. 

É nas periferias e nas comunidades favelizadas onde a fome mais pesa e impacta as pessoas. O povo não suporta mais tanta miséria, não aguenta mais ver aumentar a quantidade de bilionários enquanto passa fome. Comida tem, os supermercados estão cheios, o que falta é dinheiro para comprar e justiça social.

Panela vazia não, comida no prato sim. Queremos trabalho e salário dignos. Não aceitaremos morrer de fome. Para além do desemprego e da fome, uma multidão sobrevive nas cidades sem ter acesso à moradia, à saúde, à educação, à água, ao saneamento básico, e impactada pela destruição do meio ambiente e ausência de mobilidade urbana. As cidades são governadas sob a égide da especulação imobiliária, como se fossem meras mercadorias, colocando o lucro acima da vida.

Foi nessa população que criamos o Projeto de Lei nº 660/2021 que cria e implanta o Programa Bem Servido para distribuição de alimentos na forma de kits contendo 1 (uma) “marmita", 1 (um) copo de suco e 1 (uma) fruta para atendimento à população em situação de vulnerabilidade.

Está tudo muito caro, e a culpa é do Bolsonaro, da falta de políticas sociais, de verdadeira democracia! É preciso revoar a PEC 95, que congelou investimentos nas áreas sociais por vinte anos; é preciso taxar as grandes fortunas e grandes heranças, de onde precisa sair o dinheiro para combater a fome, a desigualdade social e a geração de empregos. A fome não é natural. É decorrente de escolhas políticas de governos e do sistema capitalista que concentra lucro e joga milhões na absoluta pobreza.  

Valdir Barranco (deputado estadual e presidente do PT-MT)

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