A posse de Lula: União e Reconstrução

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A posse de Lula: União e Reconstrução

No último domingo (1), Luís Inácio Lula da Silva tomou posse como presidente do Brasil, pela terceira vez, em cerimônia realizada no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento da posse contou com a presença de mais de 300 mil pessoas espalhadas pelos gramados da Esplanada dos Ministérios, bem como de representantes dos mais diversos movimentos, grupos, coletivos e parlamentares de todo o país, além de representações internacionais de mais de 60 Estados.

O dia foi carregado de emoções e simbolismos. A cerimônia de posse ocorreu sem incidentes mostrou que a fuga do “genocida” deixou os setores mais “cegos” de sua base na defensiva. Lula subiu a rampa e recebeu a faixa presidencial por representantes do povo que o elegeu. “Tu vens, Tu vens, eu já escuto os teus sinais”. Toda a alegria e emoção da volta da civilidade ao maior cargo político do país, a confirmação das instituições públicas, a certeza da democracia, entre outros elementos nos colocam em outro patamar.

O governo Lula 3ª edição terá 37 ministérios e 9 partidos na Esplanada: PT, PSB, PC do B, PDT, Psol, Rede, MDB, PSD e União Brasil. Isso significava uma aliança muito forte e agarrada, ao que dizemos, aos preceitos do diálogo e a democracia. Toda essa formação com os partidos, desde o começo, foi feita para pôr fim ao fascismo e ao autoritarismo que estava empregado no país desde 2019, e começa a ser desfeito desde a posse do presidente.

Lula, bem antes de assumir, já mostrava sua força e capacidade de diálogo, qualidade que sempre teve em toda sua vida, quando conseguiu aprovar uma a PEC que o autorizou a furar o teto de gastos em R$ 170 bilhões. Garantiu recursos para os R$ 600 do Auxílio Brasil, que volta a se chamar Bolsa Família (depois de aprovação do Congresso). A realidade é que o presidente abre alas do seu novo governo com um cenário econômico feroz e incerto. A taxa de juros está alta, a inflação acima da meta e o crescimento global desacelera. O déficit da União em 2023 é estimado em R$ 231,5 bilhões.

Porém, a expectativa em relação ao governo Lula é a mais otimista possível! Foi o período em que mais tivemos realizações, obras populares, como o programa minha casa minha vida, a construção de universidades e institutos federais por todo o país e a implementação/ampliação do programa farmácia popular. Acredito que, conforme sinalizações já feitas pelo eleito, não será um governo petista, e sim um governo da maior frente ampla de nossa história. Esperamos e torcemos que a população consiga ter acesso a uma vida digna, com deveres e direitos respeitados. Que a desigualdade social diminua e que a meritocracia não seja usada como ferramenta de comparação entre seres com limitações diferentes. Torço pra que ele, mais uma vez, tire o Brasil do mapa da fome no mundo.

Com o governo antigo, de 2019 a 2022, o país voltou a conviver com o “antigo inimigo”, a inflação, e seu “remédio amargo”, os juros altos, e que o novo governo deverá encontrar equilíbrio entre sua política fiscal e monetária e sua política social, que busque reduzir desigualdades. Em contradição à isso, é preciso buscar investimentos em infraestrutura, educação, cultura e políticas ambientais, como os dois mandatos anteriores do presidente Lula, com destaque à inclusão social, ao crescimento econômico e ao respeito às instituições. É necessário que busquemos reconciliar os brasileiros que discordaram sobre os rumos do país, incentivar atos de generosidade, desencorajar o revanchismo, coibir com absoluto rigor atos de violência, restabelecer a verdade, fortalecer a liberdade de imprensa, honrar a Constituição Federal e venerar a democracia.

Toda a expectativa sob o governo Lula é que de que tudo será diferente, e obviamente que será. Com a estimativa de ministros nomeados para integrar o governo de Lula. Em sua totalidade, eles e elas estão confiantes de que haverá investimentos em pautas importantes, como a do Desenvolvimento Regional, a do Meio Ambiente e a da Ciência e Tecnologia. Além da capacidade do novo governo de recuperar o Brasil como protagonista do cenário internacional, com pautas importantes, como a ambiental e a climática, as políticas de combate à fome e o fortalecimento das economias da América do Sul e das diferentes regiões do Brasil.

Por exemplo, em seu primeiro discurso após a confirmação da vitória nas eleições de 30 de outubro, o presidente Lula da Silva falou sobre as prioridades para seu futuro governo. Entre os pontos destacados, ele deu ênfase ao seu desejo de "reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país" diante do restante do mundo.

"Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo", disse Lula em seu discurso após a confirmação do resultado da votação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Durante seus dois mandatos anteriores (2003-2010), a política externa chamou a atenção da comunidade internacional. Em 2009, a revista britânica The Economist dedicou uma capa e um especial de 14 páginas ao Brasil, no qual afirmava que o país, de repente, havia estreado como ator relevante no cenário internacional. Mas agora, no terceiro mandato de Lula, segundo analistas consultados pela BBC News Brasil, o caminho do presidente eleito provavelmente será mais difícil, e repetir algumas das conquistas de 12 anos atrás pode ser uma tarefa árdua em um contexto internacional distinto.

A pauta ambiental teve grande destaque no plano de governo e nos discursos de Lula, assim como a cooperação internacional sobre o tema. O presidente eleito falou que o Brasil "está pronto para retomar o protagonismo na luta contra a crise climática" e que o próximo governo vai "lutar pelo desmatamento zero na Amazônia".

Nos governos Lula, o Brasil consolidou uma posição de destaque nas conferências climáticas internacionais, que visam implementar ações globais de contenção do aquecimento global. Foi num desses encontros que surgiu a proposta do Fundo Amazônia, implementado em 2008 com dinheiro da Noruega e da Alemanha para estimular projetos de combate ao desmatamento e uso sustentável da floresta. Após sua eleição, diversos líderes mundiais manifestaram desejo de cooperar mais com o Brasil na área, em mais uma indicação de que o meio ambiente deve ganhar bastante espaço na agenda de política externa do próximo governo. A reativação do Fundo, suspenso no governo Bolsonaro, foi um dos primeiros atos de Lula ao assumir a presidência. Com isso, o Ministério do Clima e Meio Ambiente da Noruega já informou que o Brasil já pode aplicar cerca de R$ 3 bilhões doados pelo país para o Fundo Amazônia. Todo esse montante estava suspenso pelos dois países, principais doadores do fundo, devido a política ambiental da antiga gestão. No entanto, com a eleição de Lula, em outubro, os dois países haviam informado que voltariam a fazer os repasses. Com isso, R$ 3 bilhões de reais no fundo podem ser aplicados em projetos. O primeiro passo é fazer bom uso desses recursos.

À frente da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva disse, durante sua posse, que a perseguição do governo federal aos servidores públicos responsáveis por proteger nossa biodiversidade e nosso patrimônio natural, prática criminosa instituída pela gestão Bolsonaro, chegou ao fim. A gestão anterior não teve pudores em mudar portarias para limitar a fiscalização e beneficiar esses grupos, passando a "boiada", como ele próprio afirmou em reunião ministerial de abril de 2020, enquanto a atenção do país estava voltada para os mortos e doentes da covid-19. Tudo isso acaba agora.

Já no primeiro dia de seu governo, Lula fez o “revogaço”, ação dita durante toda sua campanha. Entre eles, o Decreto nº 11.366 que reestabelecer uma política de controle de armas mais severa. A medida reduz a quantidade de armas e de munições de uso permitido, condicionando a autorização de porte à comprovação da necessidade. Também suspende os registros para aquisição e transferência de armas e munições de uso restrito por caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) e a concessão de autorizações para abertura de novos clubes e escolas de tiro.

No Meio Ambiente, as primeiras ações de Lula vão de encontro às políticas de combate ao desmatamento.  O Decreto nº 11.368 autoriza o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) a voltar a captar doações financeiras destinadas ao chamado Fundo Amazônia para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e à conservação e uso sustentável do bioma amazônico. Financiado pelos governos da Noruega e Alemanha, o fundo tem, bloqueados, cerca de R$ 3,3 bilhões.

Já o Decreto n° 11.373 restituiu a obrigatoriedade da União destinar ao Fundo Nacional do Meio Ambiente 50% dos valores arrecadados com a cobrança de multas ambientais. O Fundo Nacional também é contemplado pelo Decreto n° 11.372, que amplia a participação da sociedade civil no colegiado e as instâncias do governo federal, que será representado também por indicados pelos institutos Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Ibama).

O ato normativo nº 11.369 anula o Decreto n° 10.966, que instituiu o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala e a Comissão Interministerial para o Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala.

O Decreto nº 11.370 extingue o Decreto nº 10.502, que estabeleceu a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. De acordo com a nova gestão, o decreto extinto “segregava crianças, jovens e adultos com deficiência, impedindo o acesso à educação inclusiva”. O Decreto n° 11.371 revoga os decretos n° 9.759 e 9.812, que redefiniram as diretrizes e o funcionamento de colegiados federais.

Já o Decreto n° 11.374 torna sem efeito três atos normativos editados no penúltimo dia do governo Bolsonaro. O extinto Decreto n° 11.321 concedia desconto de 50% para as alíquotas do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante.

Para anular os outros dois decretos  11.322  e 11.323, Lula restabeleceu a redação original das normas modificadas no final da gestão Bolsonaro: o Decreto n° 8.426, de 2015, trata dos percentuais para a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) cobrados dos ganhos não-cumulativos aferidos por empresas.

No segundo dia de governo, Lula participou de 10 reuniões com Chefes de Estado, entre eles o presidente da Argentina, Alberto Fernández; o rei da Espanha, Felipe VI; os presidentes da Bolívia, Luis Arce; de Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló; e do Equador, Guillermo Lasso.

O presidente também se encontrou com o vice-presidente da China, Wang Qisha; o presidente da Colômbia, Gustavo Petro; e o presidente do Chile, Gabriel Boric. Mais tarde, ele conversou com Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a presidente de Honduras, Xiomara Castro.

A transmissão de posse de seus Ministros também indicam um tempo de União e Reconstrução. Carlos Fávaro disse que irá agregar agronegócio e segurança alimentar, o Ministro Silvio Almeida, de Direitos Humanos, afirmou que precisamos das mulheres e dos indígenas. Já o Ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, disse que nenhum país pode se considerar moderno, civilizado e desenvolvido tendo 33 milhões de brasileiros vivendo em grave insegurança alimentar e 100 milhões de brasileiros vivendo dentro da insegurança alimentar. Nenhum país pode se considerar civilizado com tamanha parcela da população ameaçada pela fome.

A composição dos 37 ministros que irão compor os ministérios do 3º mandato de Lula serão ocupadas por 26 homens e 11 mulheres. A lista conta com 10 ministros negros e 2 indígenas. Com a conclusão do 1º escalão, o presidente consolidou a hegemonia do PT em sua nova gestão. A sigla terá 10 ministérios, incluindo alguns dos principais, como a Fazenda, com Fernando Haddad, e Casa Civil, com Rui Costa. Com 11 mulheres, essa é a participação feminina recorde na Esplanada dos Ministérios. O número supera a gestão de Dilma Rousseff, que assumiu o cargo com 9 ministras.

Lula também anunciou os líderes do seu governo no Senado, na Câmara dos Deputados e no Congresso Nacional. Serão eles: Jaques Wagner (PT-BA), José Guimarães (PT-CE) Randolfe Rodrigues (Rede-AP) respectivamente. O PSB e o MDB terão 3 pastas cada um. O PDT e o União Brasil, ficam com duas. Embora esteja no PDT, o governador do Amapá, Waldez Góes, que assumirá o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, foi indicado na cota do União Brasil. O PC do B, PSD, Rede e Psol terão um ministério cada um. O presidente declarou que escolherá mulheres para comandar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica federal.

Lula desfilou de carro aberto, de peito aberto e de braços abertos, e assim permaneceremos, trabalhando junto com ele dia a dia, para que possamos ter o nosso Brasil de volta. O sentimento é de paz, de esperança e da certeza de que, estamos no caminho correto.

Valdir Barranco (deputado estadual e presidente do PT-MT)

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